A crise do Jornalismo

quinta-feira, março 27, 2014 Igraínne 0 Comments


Recentemente, conversando com inúmeras pessoas - incluindo minha sócia do LJornal, dona Adriana, descobri que a minha ideia (quase) irracional a respeito do crescente "tendencionismo"* da área jornalística não é só coisa da minha cabeça. Além de muita gente mencionar - e até defender - o jornalismo como uma profissão em crise (diz-se crise quando a procura é maior que o número de vagas), há diversos fatores vivos na mídia que comprovam esse meu argumento.
*Um neologismo que eu não pude deixar de usar.

Para entender o que eu tô falando, só dar uma espiada depois do pulo.

Antes de mais nada, gostaria de deixar bem claro que eu não faço jornalismo e muito menos sou formada nisso. O meu negócio e a minha ciência é a literatura. De qualquer modo, acredito que a tal crise do jornal tenha recaído sobre mim porque o problema, talvez (e apenas talvez) se sobreponha aos próprios profissionais dessa área.

Confuso? Eu explico.

>> A mídia digital x Mídia física
Em tese, a mídia digital poderia ser uma válvula propulsora do jornal impresso. Um apoio, as mesmas matérias, até mesmo vistas sob outro ângulo. Algo complementar. No entanto, o que mais percebo por aí é que a pressa de se publicar a matéria impede que ela chegue ao leitor/cidadão com a qualidade que deveria. Além disso, já me deparei com inúmeros erros grosseiros em sites grandes de notícia, incluindo "equívocos" de concordância na própria chamada (vulgo título) da matéria.

Tudo bem, vamos lá. Mídia não se restringe a isso. O papel, o jornal impresso, ainda pode ser muito popular, e não acho que ele acabará desaparecendo, ao menos não por agora. O que acontece é que não há um incentivo: as empresas de jornalismo não impulsionam, de modo algum, a venda desse jornal impresso ao colocar no seu site a mesma matéria integralmente copiada (ctrl + c e ctrl + v).


William Bonner, no entanto, ainda é o cara mais assistido quando o assunto é jornalismo. Tudo bem, isso é verdade, até porque, queiram vocês ou não, uma boa parte da população ainda carece de serviços de internet realmente decentes. De qualquer forma, há uma escassez de espontaneidade, de abordagem diversa quando procuramos, após o Jornal Nacional, alguma reportagem que foi exibida durante o programa. Você pode encontrar, é claro, mas ao se deparar com o texto de apoio ao vídeo, você não verá uma matéria que de fato está apoiando, contextualizando o tal vídeo. Você encontrará apenas a sequência de palavras que o Bonner diz no jornal. Uma após a outra, você sabe exatamente tudo o que é dito na reportagem sem nem assisti-la. E não pense você que são citações, não é isso. É apenas a mesma matéria, só que escrita.

O que eu quero dizer é que, muitas vezes, empresas jornalísticas deixam de enriquecer sua abordagem sobre determinado acontecimento por pura preguiça. A qualidade do jornalismo cai porque na verdade é tudo uma verdadeira repetição da mesma visão. E aquela visão é a única verdadeira. Do jornal impresso que é copiado para o jornal midiático, a fala do William Bonner que é copiada para ir ao site.

Seria alguma coisa nessa internet verdadeiramente nova?

Entãoo.....

>> O espaço ignorado
A internet veio para facilitar vidas, tornar tudo mais rápido e automático. Mas o que eu na verdade questiono é o grande desperdício que se tem quando falamos de notícia. Quando se dá apenas uma versão dos fatos, o leitor entende aquilo como uma verdade, um fato que não é questionado. Não que as mídias de uma mesma empresa devam publicar matérias que se contradizem, não é, nem de longe, disso que estou falando. O que quero dizer é que três jornalistas diferentes podem narrar um mesmo acontecimento, cada qual a sua maneira, e enriquecer todo o processo. Um fala no jornal físico, outro escreve para o portal e o terceiro é âncora na televisão. Três pessoas que podem até se complementar, de certo modo.

A decadência, a queda e o confusão da população acerca do modo como grandes acontecimentos não só do Brasil, como do mundo, chegam a nós... Tudo isso vêm deixando as pessoas apreensivas sobre o modo como é tratada a opinião pública. Seríamos todos realmente manipulados? 


Acho que não somos manipulados. O que acontece é que a mesma coisa é dita cem vezes, o que faz com que acreditemos naquilo como uma visão única da empresa inteira. Se as três mídias chamam Cláudia de "a arrastada do Rio de Janeiro", como não passar a culpa por esse "julgamento" para a própria empresa em si, e não para o jornalista que escreveu a matéria copiada incansavelmente?

E você, leitor? Acha que a crise do jornalismo vai além disso? Dê sua opinião! Comente!

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